A identificação dos sinais de ansiedade e seus prejuízos é fundamental para o processo de tratamento
Considerada uma das principais manifestações da contemporaneidade, a ansiedade tem sido um dos principais motivos pelos quais as pessoas procuram por psicoterapia. O contexto sócio-cultural em que vivemos atualmente se caracteriza pelo movimento acelerado, infinidades de informações e expectativas em relação ao futuro, havendo ainda grande valorização da individualidade e da competitividade nas relações cotidianas. Esses fatores intensificam a desvalorização do processo de construção do conhecimento, dos saberes adquiridos pela experiência, assim como da atenção plena e da contemplação, o que contribui para o agravamento da ansiedade.
É importante pontuar que nem sempre a ansiedade gera prejuízos. A ocorrência da ansiedade existencial, aquela esperada diante dos desafios e das mudanças de fases da vida, como: tornar-se adolescente, iniciar um novo emprego, viajar para um lugar desconhecido; torna-se impulsionadora de atos criativos, pois envolve não só refletir sobre a nova fase, mas também atualizar a percepção de situações passadas, adaptar-se, e estar aberta à novidade, o que gera experiências de crescimento. Ao contrário disso, a vivência da ansiedade agravada em que a pessoa busca constantemente por controle e certezas, no mundo contemporâneo, pode gerar sofrimento e prejuízos cotidianos no ambiente familiar, no trabalho, na vida em social e em outros contextos.
A partir do acompanhamento psicológico por meio da abordagem gestáltica, torna-se possível lançar um olhar ampliado e abrangente sobre o fenômeno da ansiedade. Compreendendo-a como um ajustamento ansiogênico que pode acontecer ao longo da vida, a psicóloga avalia a história de vida, a maneira como a pessoa experimenta a temporalidade (tempo vivido), as relações e os sintomas corporais (como taquicardia, dores no corpo, tensão, insônia, mal-estar e cansaço no início do tratamento), de forma a iniciar o processo psicoterapêutico e a direcionar a proposta de tratamento.
Ajustamento ansiogênico: como perceber se estou ansiosa?
É muito comum que as pessoas que estão em sofrimento ansioso tenham dificuldade de viver o tempo presente, o aqui e agora, pois tendem a buscar constantemente as experiências do passado para mobilizar idealizações sobre um futuro distante. De maneira agravada, constroem fantasias ameaçadoras que as impedem de viver riscos razoáveis que fariam parte do viver, acreditando não ter capacidade ou recursos para manejar situações desafiadoras e impedindo a si mesmas de acessar seus próprios potenciais.
Esses aspectos contribuem para que a pessoa sustente uma posição de evitação de mudanças e de manutenção de padrões rígidos de funcionamento, tendo como exemplo a tendência em priorizar as necessidades de terceiros dando pouca atenção para as próprias necessidades e desejos. A insegurança, a passividade e a dependência nas relações também são identificadas em pessoas com ansiedade agravada. Além da expectativa de controle acompanhada de dificuldade de experimentar a espontaneidade e a fluidez nas vivências do dia-a-dia.
Pode ocorrer também a negação da ansiedade, mesmo que já existam sinais de prejuízos pessoais e sociais. A evitação do contato com a ansiedade, quando a pessoa nega a existência dela, pode gerar outro sintoma ou mesmo um vazio existencial. Compreende-se, portanto, que a ansiedade não é algo a ser extirpada ou anestesiada, mas sim compreendida, pois sinaliza necessidade de mudança em aspectos do existir (Ênio Brito, 2017).
Manejo clínico: a importância da psicoterapia
Considerando os aspectos que se repetem de pessoa para pessoa em diferentes contextos e principalmente as experiências individuais no contexto sócio-histórico em que pessoa está inserida, a psicóloga busca compreender junto com a cliente como ela tem vivenciado o sofrimento ansioso, quais prejuízos ocorrem e qual o sentido das manifestações ansiosas para aquela pessoa.
A psicoterapia auxilia a pessoa com ansiedade agravada a presentificar as experiências, flexibilizar os padrões de funcionamento que estão enrijecidos, assim como a desenvolver novos recursos e suportes para o enfrentamento saudável de situações desafiadoras que até o momento geram ansiedade.
Nessa busca fenomenológica é imprescindível que a pessoa atendida seja ativa na busca por compreensão do que vive, compondo a construção da relação terapêutica e estando investida no próprio processo de auto-conhecimento e ampliação de consciência de si em relação ao contexto. Dessa forma, torna-se capaz de identificar os diferentes recursos que possui para lidar com as situações que geram ansiedade, transformando a experiência de sofrimento em uma experiência de crescimento e transformação pessoal.
Referência: A ansiedade e seus transtornos na visão de um Gestalt-terapeuta. Brito, Ê. Quadros clínicos disfuncionais e Gestalt-terapia. Copyright, 2017. 93-115.